segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Tentação

Estava colocado há pouco mais de um ano, numa pequena cidade do interior do Brasil.

Apresento-me já…

O meu nome é Jaime, padre da Igreja católica. Faz 21 anos que entrei como missionário. Tudo isto devido a um amor que acabou mal.
Para o mês que vem, completo 10 anos este país maravilhoso. Andei 1 ano na cidade de S. Paulo, dando aulas num colégio católico. Mas eu gosto é de estar no terreno, conhecer os problemas das pessoas, conviver.

Este foi o meu erro…
Ainda sou considerado pelas mulheres, como um homem bonito e com muito charme. Já não sei ao certo quantas vezes disseram “ Sr. Padre, porque esta vida?”
Alguns meses depois de estar nesta pequena cidade de São Caetano, reparei numa senhora, que sentava sempre na 1ª fila, olhava-me de uma maneira estranha, olhos de sedução, desejo. Seu nome " Rose", pouco mais velha que eu… loira, olhos azuis, e pele muito bronzeada.
Durante a entrega da Hóstia, os olhos desejavam o pecado, boca pedia mais, além do corpo de Deus. O impossível começou a acontecer, não tirava os olhos, comecei a ter ela na minha mente. Ainda tentei a minha transferência, mas foi indeferida pelo Bispo.

Cai na tentação. Nas minhas rezas pedia a Ele, suplicava que me tirasse aquela mulher da minha mente.
Um belo dia, no confessionário ouço uma voz que me disse:
- Sr. Padre, desejo um homem, mas não posso, é pecado
Tinha os meus olhos fechados, dentro de mim senti que aquela voz era da Rose. Voltei-me para aquela pequena janela, e vi o seu rosto
- Fala-me mais dessa pessoa. - Pergunto eu.
- Sr. Padre, ele é um homem, não sei como lhe explicar…só sei que é um desejo impossível.
Sem pensar nas minhas palavras digo:
- Nada é impossível nesta vida.
um silêncio, nem a respiração ouvia….
- Obrigado senhor padre, mas tenho que ir

Ela sai repentinamente, ainda venho à porta e vejo o seu caminhar apressado. Minha mente tinha caído na tentação, não podia….só tinha ela…só ela.
Uma semana depois, fizemos uma festa para angariação de fundos. Festa anual, onde a população caía em peso. Ao longe reparei em Rose, vestido vermelho, salto alto e cabelo apanhado. Tinha a minha atenção só para ela, não parava de olhar, e sentia o mesmo.
Durante horas mantivemos neste jogo de olhares, não queria, mas o meu olhar só caia para ela.

No fim da festa, Rose aproximou-se de mim com o cesto que trazia o dinheiro, esticou os braços para me entregar, peguei no cesto e senti ela por suas mãos em cima das minhas, e com o deslizar brando…sorriu. Abandonei aquele lugar, só queria fugir dali. Dirigi-me a igreja, e comecei a rezar.

Pedia a Ele, que se salva a alma….
- Sr. Padre, esta a rezar?
Olho e lá esta ela, tinha-me seguido
- Peço a Deus, que me tire os pecados.
Ela sorriu, e colocou-se ao meu lado de joelhos. Senti o seu perfume, senti o calor…sentei-me
Em voz baixa, comecei a dizer minhas preces… ela deixou-se naquela posição, rezava
Ficamos ali uns bons 20 minutos, cada um a falar com o mesmo Deus. Rose levanta-se e senta-se ao meu lado… tão próxima que sentia a sua respiração… o meu corpo caiu em tentação.
- Sr. Padre, posso-lhe fazer uma pergunta?
- Trate-me por Jaime, Rose
- Diga-me porque levou esta vida de padre.
Aquelas palavras, fez-me por breves momentos atrasar os ponteiros do relógio e coloca-los nos meus 20 anos. Altura que não passava de um playboy, filho único e abastardo. Tinha conhecido naquela altura a mulher da minha vida, casamento marcado, quando ela descobre que estava envolvido com a sua melhor amiga. Perdi-a, e então quis seguir a vida de padre.
- Rose, certos erros na nossa vida, onde a minha opção para me perdoar foi seguir o caminho de Deus.
Nesse momento Rose, voltou a ajoelhar e ouvia sua voz a rezar. Fiquei ali sentado, olhando. Em mente só tinha fantasias com ela, desejava aquela mulher.
- Bem Rose, tenho que ir tratar da igreja.
- OK, Sr. Padre.
Só queria era sair daquele lugar, afastar-me daquela mulher. Dirigi-me até ao alto da igreja. 1 vez por semana, faço a limpeza.
Estava já nas limpezas quando ouço uns passos, achei aquilo estranho, poucos iam ate lá acima.
- Sr. Padre, precisa de ajuda?
- Obrigado Rose, mas já estou na fase terminal.
Que estaria ela ali a fazer! Que queria ela de mim.
- Bem Rose por hoje já esta, é chato, mas tem que ser… os pombos…os pombos
Levantei-me e encaminhei-me ate ao vão das escadas. Ali estava ela…em posição de provocação. Ao passar por ela, senti o meu corpo a roçar no dela, o meu corpo… todo ele arrepiou. Senti a boca a poucos centímetros da minha, senti a tentação o pecado, mesmo ali, bem a minha frente. Por momentos fechei os olhos, por momentos quis cair nos sentimentos macabros que invadiam o meu pensamento. Algo em mim, não deixou, abri os olhos e vi ela a sorrir, aquela mulher, com um ar de pureza… não passava de um Diabo, querendo levar-me ate ao paraíso.
- Não Rose, isto não poderá acontecer, por favor não faça isso.
Sai dali, fugi… tinha que abrir a porta do paraíso e entrar no real. Deixei-a ali, desci sem noção, sem olhar aqueles degraus que me levaram ate ao altar. Sei que fiquei o resto da tarde, rezando.
Não soube mais dela por uns dias, nem na missa, não sabia dela. Até que na semana passada, após o meu treino diário, a minha corrida, entro para o duche. Nas traseiras da igreja, existem os Balneários, fazem parte dos Escuteiros. Todos os dias, vou fazer a minha corrida, acho importante, manter sempre uma boa preparação física, assim o moral estará sempre em perfeitas condições, e utilizo aqueles balneários para o meu duche. No meio do meu banho, sinto o chiar da porta, achei aquilo muito estranho…ainda pensei que seria o Sr. António ( o senhor da manutenção).
- Olá Jaime,
Era ela…era ela, estava aqui, os olhos corriam o meu corpo, corpo sem nenhuma proteção…. Tudo em mim parou, só pensava, não agia… Rose a deixar o seu vestido descair… via o deslizar daquele vestido no seu corpo. Aquele corpo desnudo, não consegui fazer nada…. Sentia o impacto da água em mim, sentia uma energia a entrar em mim. Aproximou-se… eu ali, parado sem reflexos, assistindo apenas.
- Posso…?
Nada disse, os lábios estavam paralisados...nada..nada saia nem um suspiro. Senti sua mão no meu rosto, os meus olhos a fecharem, o meu corpo a tremer, sinto que desta vez ia embarcar para qualquer sitio, mais com ela. Sei que naquele momento deixei de ser o Padre, passei a ser aquele Playboy de uns anos atrás. Perdi a noção do tempo, do sitio que estávamos e agarrei-me a ela. Corpos ali, juntos, tocando-se, senti a forma, os contornos de cada curva, senti o pecado ali. Deixei-me ir, embarquei naquele espírito das trevas. Olhei os olhos, ficamos ali os dois…olhando um para o outro, com a água do chuveiro cantando uma melodia de amor em cada corpo nu.
- Jaime, sou doida por ti…
Aquelas palavras, só tive uma reação… beija-la.

Encostei aquele corpo feito pelas mãos do Diabo, contra a parede… exerço uma força já a muito esquecida… Rose, começa a percorrer com suas mãos cada parte de mim… eu retribuo com o mesmo gesto.
Num gesto malicioso, começa a deslizar a língua pelo meu peito, acariciando, algo em mim que a muito não conhecia o toque de uma mulher. Sei que naquele momento reencontrei o paraíso.

Rose voltou ao ponto inicial, quis recompensar o mesmo gesto que ela tivera comigo, apenas me quis sentir dentro dela…
Abandonando aquele aroma de tentação, fui fechar a porta, por dentro, e voltei ao encontro dela.
Tivemos naquele lugar momentos de verdadeiros amantes, vivi o nobre de um ser humano.

Hoje vivo longe da vida que um dia quis ser....

0 comentários: